domingo, 23 de dezembro de 2007

Festa da firma


Parte 1 - A lenda


A festa da firma se tornou uma espécie de lenda nas empresas. Qualquer estagiário, office boy, secretária e subalternos em geral tem uma boa história sobre aquela festa da firma, naquele ano, quando seu chefe bebeu como se não houvesse amanhã e se jogou na pista para bater cabelo ao som de las bibas.


Festa da firma é confessionário. É o velho, mas sempre verdadeiro, ditado: a bebida entra, a verdade sai. Então, se você está com alguma verdade aí dentro gritando para sair, já aviso: pague uma sessão extra de terapia para o dia seguinte ou manere na bebida. Não são poucos os que já disseram entre um copo e outro frases do tipo: "sabe que eu sempre te achei interessante, mas não tinha coragem de falar nada por lá", "eu acho que sou gay", "são muitos anos, né? eu tô cansado. Ano que vem planejo sair", "onde eu estou? de quem é essa cama?" (na manhã seguinte).


Trabalhou o ano inteiro e se sentiu explorado grande parte deste tempo? Foi humilhado por algum dos muitos chefes que você deve ter? Está sentindo que sua carreira está estagnada no mesmo ponto há anos? Não aguenta mais olhar para as mesmas caras, nas mesmas mesas todos os dias? Está cansado de funcionários folgados e das pressões daqueles que realmente mandam na empresa? Chegou a hora, este é o momento! Festa da firma é um ritual de catarse. Mais um ano passou e você aguentou, resistiu às crises de stress, às gripes mal-curadas e acumuladas, às cobranças da família cachorro gato namorado, aos fins de semana dedicados ao trabalho e está aí, de pé, pronto para se acabar na festa da firma e dançar todos esses pensamentos de você.


A ordem de acontecimentos nesta festa é bem parecida com os ciclos da vida. Muito filosófico? Explico: começa no tédio. As pessoas começam a chegar. Os anciosos de plantão chegam cinco minutos antes e esperam duas horas para que as pessoas normais consigam chegar no evento. É o momento da conversa de elevador e do sorriso descarado cada vez que alguém conhecido finalmente aparece.

Quando todos estão presentes, se inicia um clima quase surreal de esperança, é o momento do sorteio dos prêmios. A cada meio metro é possível escutar um surto otimista - "eu tenho certeza que esse ano eu vou ganhar a televisão de plasma". Pouquíssimos terminam esta etapa com um sorriso no rosto.

Na seqüência a pista se abre: é o momento de euforia. As pessoas já estão levemente alteradas e se contagiam pela energia dos encontos de traveco, que não perdem uma oportunidade de ensaiar um passinho adolescente no gelo seco.

A bebida começa a subir. Os sóbrios já estão debandando e só fica na festa quem é realmente engajado. É o período da decadência. Alguns arranjam um par e conseguem terminar a noite com um destino diferente dos outros, às vezes melhor e às vezes pior. Os fiéis, os feios e os muito bêbados continuam engajados e podem acabar das seguintes formas: na coca-cola e no redbull, no banheiro, no banco do táxi ou do carro de uma boa alma que lhe dá carona e, em casos mais graves, na enfermaria. Independente de qual é o seu caso, no dia seguinte o tédio recomeça.



Parte 2 - O dia seguinte


Dia mundial da ressaca. Pode ter certeza que antes das 13h00 nada funciona na sua empresa. E pode ter certeza de que nenhuma festa da firma acontece na sexta-feira.

E não é só da ressaca dor-de-cabeça, mau humor e estômago estranho que o povo sofre. Há ainda um tipo pior, acredite: a ressaca moral. Uma olhada rápida nas fotos que circulam de computador em computador já dá a dica: muita coisa acontece debaixo daquelas luzes de boate que piscam na festinha. Várias passam batidas , afinal você não foi o único a beber. Mas se os outros não sabem, pelo menos você e mais alguém sabe. E foi por isso que inventaram a regra: o que acontece na festa da firma, fica na festa de firma. Mas lembre-se que pouca gente leva essa regra a sério.


À parte de qualquer tipo de ressaca, as pessoas estão mais sociáveis do que nunca. A catarse funcionou e uma animação misto de fim de ano e de sentimento de pertencer a uma comunidade maior invadem os corredores do prédio. Ano que vem você terá a chance de ver sua pose funcionário feliz no telão com as fotos das festas da firma dos anos anteriores.




Um comentário:

Pierre C. Cortes disse...

Pois é, Dona Bel.

É por isso que eu acho que nestas festinhas, a melhor coisa ainda é não beber nada de álcool.

He, he, he.
É uma boa forma de se precaver.

Beijos e feliz 2008.