quinta-feira, 29 de novembro de 2007

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA (como manter a sanidade no fim de um semestre)


1. Você enrolou o semestre inteiro e deixou "pra amanhã" tudo que poderia ter feito na hora, certo? Se esse é o seu caso, aconselho um kit com: red bull (para as noites que passará acordado fazendo todos os trabalhos do semestre), cigarros com o nível de nicotina alto (se você é fumante, vai entender, se não é, talvez se torne um neste período), curso de leitura rápida (desses que vinham pelo correio, dá uma ajuda e tanto na hora de enfrentar duzentas páginas do Chabrol explicando detalhadamente como um filme deve ser feito), óleo de peroba (para passar na cara antes de chavecar aquele professor que você já enrolou com todas as desculpas possíveis).


2. Você estuda e trabalha ao mesmo tempo. Caso comum nos dias de mensalidade alta e falta de QI para passar na USP. Se você puder usar computador na sua empresa, ótimo. Alterne as horas de trabalho entre: uma hora para o serviço, meia hora para a faculdade (se você se sentir culpado, lembre-se de todos os fins de semana e hora extra que você trabalhou sem receber um centavo a mais, afinal você é estagiário e isso significa o último na cadeia alimentar empresarial - resumindo, é bom você achar um cachorro para chutar). E aproveite para usar a impressora, a máquina de xerox, a internet e tudo que sua empresa pode ofercer para economizar um trocado no fim do mês (e pagar a cerveja no bar do lado da faculdade).


3. Seu professor só sabe abrir a boca para dar esporro nos alunos - folgados, indisciplinados, infantis, irresponsáveis. Provavelmente ele está certo, mas o esporro não vai mudar nenhum aluno, muito menos você que, provavelmente, já está com um bode danado do tal professor. Nesse caso pratique: enquanto ele fala mentalize algo como a professora do Charlie Brown no desenho - "bóbobóbóbobóbobobobó". Não funcionou? Mentalize ele nu, com algemas e roupinha de couro. Não funcionou de novo? Seja mais perverso e deixe sua imaginação fluir. Qualquer coisa que não o deixe prestar atenção em nenhuma palavra do que ele está dizendo. Quando ele terminar diga apenas: o senhor tem toda a razão. Afinal professores são em geral egocêntricos e sempre acham que estão certos.


4. Sua família, seus amigos, seu namorado e todos que participam de sua vida social te cobram atenção. Saia e avise que está indo comprar cigarros. Vá e não volte mais (pelo menos até o semestre terminar).


5. Não tem jeito, naquela matéria você vai bombar. Venda os rins para pagar a DP, se até você acha que não tem mais jeito, provavelmente já reprovou.


6. Chega! Você não aguenta mais! O Natal chega mas não chega o fim do semestre. Pare. Inspire. Expire. Agora arranje qualquer tipo de álcool para ingerir. Beba um pouco e se lembre: no último dia de aula você vai beber como se não houvesse amanhã. Compre um engove e deixe na mochila!


7. Suas unhas já não existem mais. Você já passou para a carninha do lado do dedo e para todas as tampas de caneta que atravessam seu caminho. Uma caixa de Prozac. Salvará suas unhas, as canetas e provavelmente suas amizades também.


8. Seu cabelo cresceu e você não teve tempo de cortar. Sua barba não sabe mais o que é uma gilete. Seu namorado tem que desbravar tudo que não é depilado há tempos. Acontece que no fim do semestre suas prioridades mudam. Ou você termina o trabalho ou você faz a unha, a barba e cuida de todo tipo de vaidade pessoal. Aceite: você ficará um lixo até este semestre terminar. Aprenda a ver a beleza nas coisas naturais: um suvaco peludo faz sucesso na europa, se você souber argumentar, o desleixo vira luxo.


9. Por último: aproveite o tempo no banho, no trono, no almoço, no trânsito e qualquer outro tempo "livre" para sonhar. Lembre-se que existe vida após o semestre e planeje tudo aquilo que você desejava ter feito mas "não tinha tempo para". Manter a ilusão de que você aproveitará suas férias da faculdade para fazer essas coisas ajuda a chegar no fim com um certo ânimo. Mas já aviso, provavelmente você vai usar esse tempo para dormir, sair, encher a cara ou assistir novela. E tem como ser diferente? Afinal você merece, estudou, se sacrificou e chegou ao final de mais um semestre!

sábado, 24 de novembro de 2007

Araquém


Fazer poesia é difícil?


"Fazer poesia ou é muito fácil, ou é impossível."


Simples assim. Araquém tem dessas máximas que tem um sentido todo especial quando ditas por uma pessoa que carrega a idade e a experiência que ele tem. Quem nos apresentou foi o Noel. Aquele que não sabia com que roupa iria naquele samba esquecido.


Explico: falar sobre Noel sem falar sobre a Vila Isabel não dá. Fazer um documentário sobre Noel e não ir à Vila Isabel dá menos ainda. Chegamos no Petisco da Vila. Tínhamos a esperança de encontrar por lá alguém que tivesse conhecido o sambista pessoalmente. Digo esperança pois, a esta altura, o nome Araquém já tinha virado uma lenda entre o grupo. Muitos mencionavam, mas ninguém sabia ao certo por onde andava o sujeito. Conseguimos, enfim, um telefone. Celular. Me perguntei se alguém daquela idade carregaria um celular por aí. Disquei: "Qualé, qual foi, o que que há?". Marcamos um encontro no Petisco.


Lá: chegou, bebeu, não fumou pois parou há dois meses, esculachou quem quis, declamou poemas, cantarolou e conquistou.


Araquém não era lenda, afinal. Corrijo: Araquém é mais que a lenda que carrega. Tão mais que mudou nosso rumo. O documentário era um. Agora é outro.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Eu tenho medo do queijo Danubio


confesso, o queijo minas frescal danubio me dá um baita medo. é uma lactodanubiofobia toda vez que assisto aquele comercial que mostra como o queijo é feito. ele passa em uma máquina, outra e vai diretamente para a mesa da família mais limpinha da tevê. os limpinhos, cheirosinhos, felizinhos estão ali para mostrar que é você, única e exclusivamente VOCÊ, o primeiro a colocar a mão no queijo branco danubio. é aí que me vem o calafrio.

quando eu era pivete e perguntava pra mamãe de onde os bebês vinham, perguntava também de onde vinha o leite. os bebês mamãe evitava, muito pênis e vagina envolvido. o leite era fácil, mamãe contava: da vaca. e quando eu perguntava de onde vinha o queijo: do leite. simples assim.

cena: café da manhã na casa dos silva pinto de castro. bel com cinco anos, olho de ramela, óculos com digitais engorduradas. mamãe atrasada para o trabalho no INSS e com olheira funda de estudar freud lacan jung durante a madrugada. na mesa: pão francês, leite C de saquinho, nescau, doriana e o queijo frescal danubio.

"mamãe, de onde vem o queijo?"

pronto. como faz a mamãe agora?

leite com zinco, ômega, zeroporcento daquilo que mata já me deixa desconfiada. agora um queijo que é todinho feito por uma máquina e que não tem nem um humano pra meter a mão na teta da vaca envolvido no processo? chego a pensar que por trás desse queijo nem vaca tem!

como faz a pessoa que quer comer um queijo branco menos limpo que a família danubio? não faz por aqui, pelo jeito. aqui é VOCÊ o único animal que vai colocar as mãos nesse trocinho prensado que tão chamando de queijo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

um salve aqueles que ficam!


véspera de feriado.

em são paulo chove.

adeus.

aqueles que ficam nesta cidade chorona adeus.

vou-me embora pro rio de janeiro.

em busca do sol?

diz o clima-tempo que não.

eu não acredito.

a esperança existe sem google.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

campanha "por um post mais feliz"


atendendo a incessantes pedidos, eis aqui um post "feliz". particularmente, discordo de quem achou os outros posts "infelizes". retruco contando o segredo: a poesia precisa de um toque de melancolia, não se é poeta dando saltos e gargalhadas por aí. mas até aí eu não sou poeta e não preciso seguir os passos melancólicos de tantos outros que se aventuraram por aí. sigo estes meus, um pézinho após o outro, sem pretenções ou argumentos dogmáticos. e justo hoje, dia em que decidi escrever o tal do "post feliz", vieram me falar de medo. fiquei aqui matutando como o medo poderia ser bom. e não é que justamente nesta fase tão dita melancólica da minha vida, eu olho pro medo e ele me traz um sorriso no rosto. por que o medo que sinto hoje é medo que só coisa boa dá. por que o medo que eu sinto hoje é medo de frio na barriga. e por que este medo que me pega e me coloca contra a parede não é medo paralisante. é destes que me faz ir além do muro pra ver o que é que há.
ps. a foto é para colocar um sorriso no rosto de todos que passarem por aqui. gongação pra vida.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O ogro


não. esta fica para outro dia mais cinza. hoje olho para o mar. não se pode estragar isto com uma recente lembrança de alguém que implora para ser lembrado, que imprime seu jeito bruto para marcar dias não seus.

sábado, 3 de novembro de 2007

o vinho e aquele que já não é

descia pela garganta. primeiro amargo, como tudo aquilo que invadia um corpo tão seu. depois já suave, seu corpo acostumado e resignado. ia garganta abaixo transformando os poros, os sentidos. sua censura baixava guarda e ela se permitia. por isso, em situações como essa, preferia se ver só.
mas ah, esses adventos da modernidade. ah, esses milhões de fios condutores que assanhavam o seu lado mais primitivo de criança mimada e carente que não suporta um minuto de solidão. ligou o computador. uma dua três telas. contatos. digitava frases mais pensadas do que ditas. contribuía para a construção de um diálogo só de imagens e percepções. um esforço para interagir com este mundo tecnológico. tela, mouse e teclado. anseios, dúvidas e divagações. a possibilidade de um contato que por outro meio não se daria. a saudade de um contato que só se dá por outros meios. o seu momento de solidão modificado. no lugar do vazio, uma máquina de possibilidades. no lugar da garota comedida e rubra diante do outro, a garota descarada e - com palavras medidas - explícita.